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quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Reencontro

Ontem ela o viu atravessando a rua com seu jeito manso, que tanto a iludiu. Atravessou em frente ao seu carro vermelho, mas não a viu - ela estava com os vidros fechados, no frio que era só seu enquanto o mundo derretia-se sob o sol da tarde. Ela se assustou, nunca se pensa sobre 'quem vai atravessar em frente ao seu carro', ele era a surpresa que ela não queria ter, era o andar manso que ela não queria ver, aquele jeito de andar olhando para os pés e estar sempre desatento ao que acontece ao seu redor, ela sentiu tanta saudade e tanta vontade de dizer alguma coisa, mas deixou isso passar, junto com ele.
Por um momento pensou em descer do carro, e durante os trinta longos segundos que se espera no sinal ela ia olhar nos olhos dele e contar para todos os anônimos parados atrás dela, ao seu lado e aos que atravessavam as coisas que guardava a respeito daquele pedestre madilto.

'Ele é meu ex-namorado, namoramos e terminamos quando eu era apenas uma menina. Nos reencontramos e namoramos novamente, nos apaixonávamos todos os dias um pelo outro, moramos juntos por um ano, mas ele me deixou. Não sei ao certo se eu fui traída, mas eu me sinto muito traída. Me sinto ferida pelas coisas que ele não me disse enquanto ia embora lentamente, cada dia um pouco mais longe de mim, cada noite surgiam milênios entre nós naquele espaço tão curto da cama. Não me molhe assim, menino, como quem não me conhece ou não tem culpa ou nem sabe o que dizer. Eu queria que você fosse digno de me dizer porque partiu e onde está agora, de me dizer pra onde você ia a cada dia, onde seu coração descansava enquanto seu corpo estava comigo. Eu sofri ao perceber que você não voltava, deixou seu coração e o seu amor que era só meu, levou de mim de vez e entregou a outro alguém eu não queria ver mas estava cada vez mais explícito, mais forte em mim. Seu coração ficava com ela, cada dia mais e mais, e quando seu corpo foi buscar seu coração eu quase morro na convivência com a sua ausência, que era mais marcante e mais presente que você nos últimos dias.
Eu só quero te dizer que a sua falta dói em mim como alguma dor muito grande que as palavras não sabem dizer. Tudo que eu queria era sentir você de volta, nem que fosse apenas o seu corpo, o seu coração eu me encarregava de buscar nas mãos de alguma qualquer, eu não quero mais saber se há valor em mim quando tudo que eu queria era você de volta, queria o seu jeito de mexer nos cabelos, de andar olhando para os pés e de sorrir das bobagens como se fosse a melhor piada do século. Eu amo em você o que eu não amo em ninguém - a sua frieza, o seu jeito de me maldizer, de me ignorar e de me deixar sem dizer nada como se fosse qualquer bibelô que a gente enjoa de ver na mesma estante por tantos anos e se desfaz dele, se renova, eu amo a sua inconstância que tanto me dói. Eu amo sentir você me doer."

Pensou muito nessas palavras que tanto guarda, bem guardadas e pacientemente esperando o momento de saírem e fazer eco na vida daquele rapaz tão displicente, que nem sabe que a dor é tão grande assim, cafajeste sem querer, por vocação.
Mas aumentou a música que tocava no rádio, voltando a sua atenção para sintonizar direitinho a estação, não olhar mais para aquela faixa de pedestre, deixar que ele atravesse e leve consigo toda a sua desatenção, tudo que ele levou dela mas ele nem sabe.
Todo o seu amor, vestido de ódio, desprezo e fim de tarde ensolarado.
Todo o seu bem-estar que ela tanto quer manter, quando a sua paz ele também levou, ladrão maldito.

9 comentários:

Rhuani disse...

Lindo o texto.. E adorei o blog.
Tô te seguindo :)
bjos :*

Milla Lima disse...

texto lindo esse ! me arrepiei tooda . haha

Unknown disse...

O que eu faria sem essas sessões terapeuticas??? My God!!! Extravagante, inexplicável...

Bjos!

Gabi disse...

Liiiiindoo deeemais Laay.
Eu nem sei mais o que comentar aquiii, seus textos são maravilhosos deeemais *.*
Sou sua fã Layz Costa ;P

;*****

Anônimo disse...

Maravilhoso.

BelaTeixeira disse...

Caraaa... como vc consegue ser intensa! Amooooo te ler!!!
Estava comentando no blog de uma amiga exatamente sobre a nossa relação de 'dependencia' com a dor. O vazio fica e é ocupado por ela. "Eu só quero te dizer que a sua falta dói em mim como alguma dor muito grande que as palavras não sabem dizer.Tudo que eu queria era sentir você de volta [...]seu jeito de mexer nos cabelos, de andar olhando para os pés e de sorrir das bobagens como se fosse a melhor piada do século. Eu amo em você o que eu não amo em ninguém. Eu amo sentir você me doer."
As vezes tudo que eu queria era um reencontro casual. As vezes é o que mais temo. Mas pra mim, esses reencontros sao impossiveis na distancia. Mas ainda me arrumo e penso: poxa hoje eu queria ser vista! Eu queria ver! Eu queria dizer! MAs as vezes into que nao saberia absolutamente como me portar.

Janete Andrade disse...

sabe lay é estranho, às vezes a gente reclama dessa dorzinha típica dos fins de relacionamento, mas essa dor é a única coisa q fica de quem não quer mais ficar, nos agarramos a essa dor como se fosse o outro, dói mais passar por alguém q te fez sofrer e não sentir nada do q sentir a dor latejando no peito... :x


beijão =@

Suzana Z. disse...

Nao tem como nao se identificar lendo seus textos... "...eu amo a sua inconstância que tanto me dói. Eu amo sentir você me doer..."

Lindo msm...
bom domingo p/ ti!
bj

Eudes Honorato disse...

Adorei o seu texto.Vc escreve muito bem.Parabéns!