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sábado, 25 de setembro de 2010

Perguntas para decifrar uma paixão

Eu nunca te disse que seria fácil. Pode parecer conto de fadas mas as coisas são muito reais e estamos lidando com humanos, humanos cheios de amor, mas humanos.

E se eu chorar? Posso inundar você de lágrimas? E de repente ver meu porto seguro sucumbir e nadar até te encontrar de novo, descobrir que me perdi e mergulhar e te achar bem no fundo de mim. Posso ser humana com você?

Posso deixar o vento assanhar meu cabelo, você vai saber rir na medida exata e me deixar vermelha e depois esfriar minhas bochecas com um olhar apaixonado, bobo, derretido? Você sabe me matar devagarzinho?

Sabe me enganar com mentirinhas de amor? Sabe fazer surpresas? Sabe me fazer passar mal de rir?

Você está apto a quebrar minha dieta com um jantar bem delicioso e depois me dizer que eu estou linda e magrinha, e jurar que aquele jantar quase não tinha caloria?

Você saber fazer cócegas?

Vai notar quando eu corto as pontinhas do cabelo?

Você sabe me pegar pela cintura quando eu me desequilibrar de um salto imenso que eu pus pra te impressionar e provocar um calafrio discreto, quase imperceptível e me fazer pensar que é coisa da minha cabeça quando meu corpo inteiro e minha cabeça estarão imersos, loucos, cegos e absortos numa paixão daquelas, avassaladora.

Se você for tudo isso, eu quero.


sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Casulo



Meu casulo está cada vez mais quentinho, mais aconchegante e eu sei que o ar tem se esgotado. Tenho plena consciência do quanto a solidão tem se tornado complicada, densa e ao mesmo tempo se dissipa em uma fumaça multicolorida de origem desconhecida.

A vida aqui nesse casulo, meu caro, é cada dia mais confortável. Às vezes eu sinto que tudo pode se romper, que alguém pode ousar mexer no que eu preservo e escondo,
temo que descubram o acesso ao meu aconchego, temo pela perda de paz e pelo peito aberto, temo. O que me amedronta ainda não tem definição, mas ultimamente eu tenho pensado no que me trouxe até aqui além das feridas - cada vez que eu me feria procurava uma maneira de amenizar a dor, nem sempre curar a ferida mas sempre amenizar a dor - a solidão sempre me acolheu tão bem que meus pés já sabiam o caminho do casulo depois da terceira ferida.
Palavras, sempre elas. Quem me conduz a outros mundos, fala por mim, diz o indizível, mexe no impossível, também me conduz pra mais profunda solidão e a mais bem disfarçada por elas mesmas. Quem poderia imaginar que eu estou aqui também? Quem diria que tem uma vizinha como eu nessa comunidade tão imensa? Eu sei que somos milhões, milhões de rostos presos, de cabeça pra baixo e coração bem mais pra baixo ainda, cheio de defesas, cheio de proteção: não quero acreditar de novo, não quero ouvir de novo, não quero me apegar de novo, não consigo apanhar mais uma vez, não suportaria mais um naufrágio.

Ei coração, fica quieto e só arrisque nas teorias, contente-se com suposições e que fique apenas na sua imaginação esses devaneios. Quando você sentir um outro coração, assim, bem pertinho, bem quentinho, com cheiro de café e abandono, com poeira e aquela música tocando na vitrola, aquela velha canção que já embalou amantes apaixonados mas hoje canta sozinha pra um coração apertado, compacto, sem exigências, que saiba caber direitinho no meu cansaço e que me revigore sem querer, sem saber, sem sentir - é amor.